
Artigo de opinião de Paulo Ramalho, Vereador da Competitividade Económica, Turismo e Relações Internacionais da Câmara Municipal da Maia
Depois de ter perdido a reeleição para Joe Biden em 2020, Donald Trump regressa à Casa Branca para um último mandato, tornando-se assim o segundo presidente da história dos Estados Unidos a vencer eleições para dois mandatos não consecutivos. O primeiro a consegui-lo havia sido o democrata Gover Cleveland, no final do século XIX, que ocupou a Casa Branca entre 1885 e 1889, e posteriormente entre 1893 e 1897.
E a verdade é que o republicano Donald Trump, ao contrário do que indiciava uma boa parte das sondagens, ganhou de forma clara, tendo não só conseguido eleger o maior número de delegados para o colégio eleitoral, mas também vencido no voto popular. E viu ainda o seu partido alcançar a maioria no Senado e na Câmara dos Representantes, o que tudo lhe confere agora um poder bem superior ao que recebeu em 2016, dos eleitores norte-americanos, para governar e colocar em ação o programa político que defendeu durante a longa campanha eleitoral. Ou seja, com este resultado, Donald Trump terá mais espaço para impor as suas vontades e menos necessidade de negociação.
Isto, apesar das diversas acusações em processos criminais de que Donald Trump tem sido alvo, bem como do alegado envolvimento na invasão ao Capitólio, ocorrida em 6 de janeiro de 2021, que motivou inclusive que se questionasse junto do Supremo Tribunal dos Estados Unidos a sua capacidade para ser candidato.
Recorde-se ainda que, durante o seu primeiro mandato, Donald Trump foi o primeiro presidente dos Estados Unidos a ser alvo de dois processos de “impeachment”, promovidos pela Câmara dos Representantes, que acabaram, entretanto, por não ser validados pelo Senado.
Por outro lado, pela sua postura frequentemente impulsiva, radical e populista, assente numa linguagem discursiva algo “exagerada”, em que por vezes destrata até os seus adversários, Donald Trump está longe de ser um líder político consensual e que conviva de forma fácil com o contraditório. James Mattis, ex-secretário da Defesa do Governo de Trump, que renunciou ao cargo em dezembro de 2018, acusou-o mesmo de ser um presidente que não tentou unir o povo americano, e que nem sequer o fingiu.
Mas a verdade, é que Donald Trump, ao contrário da sua primeira eleição, é hoje um político bem mais conhecido do povo norte-americano, em que para além do seu pensamento político, ninguém ignora as suas virtudes e defeitos, pelo que esta sua nova eleição, aconteceu agora de forma ainda mais consciente e afirmada, o que reforça claramente a sua legitimidade política e capacidade de ação.
De forma pragmática, Donald Trump soube interpretar bem os reais problemas e ambições do seu eleitorado, bem como daquele, que não sendo claramente dele, desejava mudança.
Aliás, quer durante as primárias do Partido Republicano, quer durante a campanha eleitoral, Donald Trump foi sempre igual a si próprio, sempre disse ao que vinha. Sendo que as ideias que defendeu são basicamente as mesmas que o levaram à Casa Branca em 2016, assentes na matriz “America First”, ou seja, “Estados Unidos em primeiro”, um programa político essencialmente virado para dentro, menos comprometido com responsabilidades da plataforma global, com duas preocupações principais: o crescimento da economia, mesmo que à custa da implementação de medidas protecionistas e da desvalorização da transição energética e o controlo da imigração.
De forma simples, Donald Trump prometeu, mais uma vez, “tornar a América grande de novo” e “recuperar o sonho americano”, propondo-se para o efeito a baixar os impostos, a aumentar as taxas aduaneiras para os produtos importados, a cortar nos incentivos para a transição energética, a apoiar a indústria de petróleo e gás, a fechar fronteiras, bem como a proceder à deportação de todos os imigrantes ilegais. Comprometeu-se ainda a combater programas que promovam a ideologia de género e a acabar com a guerra entre a Ucrânia e a Rússia em 24 horas.
Só que Donald Trump não será só o presidente dos Estados Unidos, mas também o líder da maior potência mundial, pelo que num espaço fortemente globalizado e interdependente como é hoje a plataforma internacional, não tenho dúvidas que a implementação deste programa político, agora sufragado pelo eleitorado norte-americano, terá impactos significativos na geopolítica e na economia internacional.
Donald Trump não vai, obviamente, conseguir acabar com a guerra entre a Ucrânia e a Rússia em 24 horas, mas é expectável que vá desenvolver esforços no sentido de encontrar uma solução negociada para o conflito. Não o conseguindo, não me surpreenderia que diminuísse substancialmente os apoios à Ucrânia, obrigando a um esforço maior por parte da União Europeia.
A adoção de medidas protecionistas, e designadamente o aumento das taxas aduaneiras para os produtos importados para os Estados Unidos, vai seguramente criar turbulência no comércio internacional e dificultar as exportações da China e da própria Europa.
A desvalorização das alterações climáticas e da transição energética que manifesta Donald Trump, pode levar à saída dos Estados Unidos do “Acordo de Paris”, o que a acontecer, significará um golpe sério nos esforços de resolução de um problema global particularmente grave, por parte da comunidade internacional, e que a Europa tem procurado liderar.
Quanto à NATO, não creio que esteja em risco a permanência dos Estados Unidos na Organização, mas não duvido que vai aumentar a pressão para que os Estados-membros aumentem as suas contribuições em matéria de defesa.
Sendo que, com a ascensão da China ao estatuto de segunda maior potência mundial, as prioridades estratégicas dos Estados Unidos estão cada vez mais direcionadas para a região da Asia/Pacifico.
Como dizia recentemente Durão Barroso, está na hora da Europa “saber se quer ou não tomar o seu destino nas suas próprias mãos” …