A viticultura duriense em 2020
Artigo de Opinião de Luís Braga da Cruz, Engenheiro Civil
O ano 2020 já é um ano atípico para a viticultura do Douro pelo impacto da COVID-19, importando tomar medidas para que a crise não promova maiores danos na região. Num ambiente de forte intervenção pública para mitigar efeitos negativos em tantas dimensões da economia portuguesa, urge que se evitem consequências negativas na viticultura duriense e também na dimensão social.
Faz sentido recordar que o Douro é uma região peculiar e que o momento que atravessamos ainda torna mais complexa a gestão dos seus problemas. Acontece que as duas actividades em que tem assentado o desenvolvimento do Douro - o vinho e o turismo - foram severamente abaladas pela crise, com uma forte quebra na procura. O turismo cessou completamente e as vendas de vinho reduzidas.
Apesar da evolução das últimas dezenas de anos, o Douro continua a ter fragilidades que reclamam um esforço de discernimento sobre o que é necessário fazer. A especificidade do Douro e o seu carácter sensível reclamam soluções diferentes de outras regiões vitivinícolas portuguesas. A realidade sócio económica do Douro é segmentada. Os grandes produtores não são autónomos, porque também vivem das uvas produzidas pelos pequenos produtores. Uma nova geração de produtores/exportadores tenta inovar e afirmar-se. São de pequena e média dimensão, produzem bons vinhos, engarrafando-os e colocando-os no mercado internacional, mas ainda estão numa fase de consolidação da sua actividade. Os de muito pequena dimensão, que são em maior número, produzem para os restantes e, por isso, são muito sensíveis à política de preços praticada. Há viticultores que, perante os elevados custos de tratamento das suas vinhas e a baixa espectativa de remuneração das uvas, tendem a reduzir os tratamentos que a irregularidade climática deste ano recomenda, pondo em risco a qualidade da próxima vindima.
Por outro lado, começa a invocar-se a disciplina do mercado e a recomendar-se uma redução no valor do benefício, para acompanhar a redução das vendas. Se tal orientação prevalecesse, o resultado poderia ser dramático para o Douro, com impactos muito negativos a nível social e com provável repercussão em anos seguintes. Uma solução mais prudente, seria anunciar, desde já, a manutenção do benefício ao nível do ano anterior e criar ajudas para reforço do armazenamento capaz de acomodar a produção deste ano. Os excedentes gerados poderiam ser absorvidos pelo mercado em 2 ou 3 anos e assim evitar uma importante quebra de rendimento. Outros estados europeus com actividade vitícola, caso da França, já anunciaram fortes programas de intervenção para queima de excedentes. Faria sentido fazê-lo também entre nós.
O recente estudo - “Rumo Estratégico para o setor dos Vinhos do Douro e do Porto” - encomendado pelo IVDP à UTAD, faz recomendações muito precisas e rigorosas que, sendo implementadas, contribuiriam para a solução de problemas de natureza estrutural que afectam o Douro. Parece ser o momento oportuno para as avaliar e as pôr em prática.